Senti um cheiro estranho, um odor desagradável um fedo mesmo. Olhei para os lados para ver se descobria de onde exalava esse cheiro que estava incomodando. De repente entendi que não deveria procurar de onde, mas de quem. Logo percebi que estava com o braço levantado. Pronto o mau odor era meu.
Apesar das pessoas a minha volta sentirem o cheiro e olharem diferente para mim, ninguém reclamou. Todos continuaram fazendo o que tinham para fazer mantendo-se com o máximo de distância possível, evitando o desconforto que o fedo lhes causava.
Continuei o meu caminho com o braço levantado e agora queria entender porque ao invés de um grito de desespero com o incomodo e o fedo que eu estava causando, todos preferiram se afastar. Irritada com a situação comecei a me aproximar daqueles que mais se distanciavam e segui-los para ver o quanto agüentariam.
Pensei que seria por pouco tempo. Estava muito enganada. Um dia inteiro e nada. Alguma coisa eu estava fazendo errado. No dia seguinte, dessa vez sem banho, sai novamente com o braço levantado e decidi focar o meu esforço. Elegi um alvo. Pronto. Aquela seria minha “vítima” por todo o dia. Como será que depois de um dia inteiro de fedo ela reagiria. Para meu desespero não houve reação.
No dia seguinte, no entanto, o meu caso de experimento não retornou. Descobri que decidiu mudar para não ter que conviver comigo. Alguma coisa eu estava fazendo errado. Como um cheiro tão desagradável não causava nenhuma revolta.
Agora a causa estava comprada. Ficaria sem banho e com o dois braços levantados até alguém reclamar. E não qualquer reclamaçãozinha não.Queria uma briga. Briga feia. Se apanhasse não teria o menor problema, acho até que gostaria. Sinal de que há vida por trás daqueles que fogem do meu fedo.
Por muitos dias consegui alguns tipos de reação. A maioria das pessoas se afastou. Preferiram manter-se longe a reclamar do meu fedo. Outros ousaram pedir para eu tomar um banho sem mesmo perguntar por que eu não o tinha feito até então. Ninguém se juntou a minha causa. Sim agora já era uma causa.
Passei então, a ganhar muitos perfumes, caros inclusive, e receitas de desodorante. Queriam disfarçar o cheiro forte, nessa altura já incomodava muito, que saia de mim. Mas eu não aceitava nenhum. Comecei a perder um monte de “amigos”. Minha presença não alegrava mais. Era pesada. Causava um desconforto.
Um dia, triste, mas com os dois braços levantados, peguei o metrô para o centro. Cheio. Ali, onde muitos braços têm de ficar levantados, por outro motivo, mas ainda sim levantados, poderia me misturar e não ser um fedo para sociedade por um instante. Não, agora o mau cheiro estava incorporado em mim, fazia parte do que eu era. E na verdade eu gostava disso e muito. O que me deixava irritada era que apesar do incomodo ninguém fazia nada para cessar o fedo. E se todos ali de braços levantados estivessem fedendo? Será que assim iriam resolver o problema desse odor tão desagradável? Será que incomodaria alguém capaz de mudar a situação? Por quanto tempo agüentariam um monte de fedorentos desfilando com os braços levantados pelas ruas? Acho que todos deveriam feder um pouco mais ou muito mais, com os dois braços levantados para ver o que aconteceria. Mudaria alguma coisa?
sábado, 20 de outubro de 2007
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